"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dia de Finados











"O Dia da Morte"
(Pintura de William-Adolphe Bouguereau - 1825-1905).


No dia 02 de novembro é celebrado pela Igreja Católica o "Dia de Finados", também chamado de "Dia dos Mortos" ou "Dia dos Fiéis Defuntos".
Este é um dia dedicado ao respeito pelos mortos para que as famílias celebrem a vida eterna de seus entes falecidos, sendo comum neste dia, nas épocas atuais, a intensa visitação aos túmulos, em que as pessoas vão ao cemitério para levar flores e acender velas aos seus mortos, guardando-se em oração silenciosa aos pés do sepulcro, como gesto em sinal de respeito. É comum também que se celebrem missas ou cultos em memória de todos os mortos, geralmente realizados nos próprios cemitérios.
Desde o Século II, alguns cristãos já exerciam o hábito de rezar pelos seus mortos, visitando os túmulos dos mártires para se elevarem em prece pelos falecidos.
A partir do Século IV, as missas em memória dos mortos tiveram sua origem. No Século V, entretanto, a Igreja passou a consagrar um dia para essa celebração, de modo que dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava.
Porém, foi no Século XI que os papas Silvestre II, João XVII e Leão IX passaram a exigir tal celebração, obrigando a comunidade a dedicar um dia aos mortos.
Finalmente, no Século XIII esse dia anual passou a ser comemorado no dia 02 de novembro, no dia seguinte à festa católica de "Todos os Santos" (dia em que se celebra os que morreram em estado de graça ("santos"), canonizados ou não).
A doutrina Católica, visto que o dia de finados é uma "festa" católica e, portanto, segue os princípios do catolicismo, para fundamentar sua posição (a respeito do assunto), evoca algumas passagens bíblicas, tais como Tobias 12:12, Jó 1:18-20, Mt 12:32 e II Macabeus 12:43-46, e se apóia em uma prática de quase dois mil anos.
Entretanto, os Protestantes e os Evangélicos afirmam que a doutrina da Igreja Católica que recomenda a oração pelos falecidos é desprovida de fundamento bíblico. Segundo eles, a única referência a este tipo de prática estaria em II Macabeus 12:43-46, Livro este não reconhecido como legítimo pelos Evangélicos e pelos  Protestantes, eis que referido Livro faz referência à ressurreição (razão pela qual o catolicismo entende ser necessário que se reze pelos mortos, visto que, não havendo ressurreição, não haveria também razão para rezar pelos falecidos), sendo que para os Evangélicos apenas Cristo é que poderia e pode ressucitar e, para a interpretação Protestante,  a Bíblia diz que a salvação de uma pessoa depende única e exclusivamente da sua fé na graça salvadora que há em Cristo Jesus e que esta fé seja declarada durante sua vida na terra (Hebreus 7:24-27; Atos 4:12; 1 João 1:7-10) e que, após sua morte, a pessoa passa diretamente pelo juízo (Hebreus 9:27) e que vivos e mortos não podem comunicar-se de maneira alguma (Lucas 16:10-31).
Os Protestantes, no entanto, observam o dia de Finados para lembrar das coisas boas que os antepassados deixaram, como o legado de um caráter idôneo, por exemplo. Mas entendem que as pessoas precisam ser cuidadas enquanto estão vivas. Para eles, após a morte, nada mais resta senão o juízo.
Mas, o que o Espiritismo tem a nos esclarecer sobre o assunto?
Interrogados sobre se o dia da comemoração dos mortos tem alguma coisa de mais solene para os espíritos e se eles se preparam para vir (na Terra) visitar os que irão orar sobre seus despojos (ou seja, sobre suas sepulturas), os Espíritos respondem, na pergunta de número 321, de O Livro dos Espíritos de Kardec, que que estes (os espíritos) atendem tão somente ao apelo do pensamento de seus entes e asseveram que isso ocorre não só nesse dia (dia de finados) como também nos outros dias. Ou seja, os espíritos vêm "ao nosso encontro" não pelo fato de ser o dia dos mortos, mas tão somente porque pensamos neles e é pura e simplesmente através do nosso pensamento que nos ligamos a eles, onde quer que estejamos (e eles também).
Em O Livro dos Espíritos Comentado pelo Espírito Miramez, comentando a questão acima, Miramez observa que "os pensamentos dos familiares e amigos cortam o espaço em busca dos seus queridos, e eles os atendem. As ondas mentais são como que chamados, são buscas da forma, conforme se encontra registrado no próprio Evangelho de Jesus: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á".
Ainda na questão 321 (321-A), de O Livro dos Espíritos, questionados sobre se o dia dos mortos é para os espíritos um dia de encontro junto às suas sepulturas, os Espíritos respondem que eles (os espíritos) apenas estão nos cemitérios em maior número, neste dia, em especial, pelo fato de existirem mais pessoas "que os chamam" (pensam neles, fazem preces com o pensamento neles, visitam os túmulos com o pensamento fixado neles) junto aos sepulcros e que cada um (espírito) vem por causa dos seus e não pela multidão presente em intenção ao dia dos mortos.
Miramez, também em comentário à questão, esclarece que "os espíritos elevados não rendem culto aos restos mortais; quando os deixam, agradecem a natureza e partem para outras etapas da vida, onde podem ser mais úteis às belezas imortais da própria existência. Somente os inferiores permanecem junto aos familiares, semi-inconscientes, às vezes prejudicando seus ex-companheiros".
Por fim, questionados se o fato de visitarmos o túmulo provoca maior satisfação ao espírito do que uma prece feita em sua intenção (longe da sua sepultura), os Espíritos respondem, na pergunto de número 323 de O Livro dos Espíritos, que a visita ao túmulo é um modo (humano) de manifestar que se pensa no desencarnado, que se lembra dele, mas que, porém, é a prece que santifica o ato de lembrar, pouco importando o lugar, desde que ditada pelo coração.
Miramez assevera que "para orar pelos que partiram, para executar esse gesto de amor, podemos estar onde quer que seja, pois os fios dos pensamentos viajam sem impedimento pelo espaço, indo em busca daqueles que merecem o seu amor. A súplica não deve ser feita somente no Dia de Finados; façamo-la todos os dias, que a prece com o coração em Jesus é alimento para todas as almas, tanto aquela que ora, quanto a que recebe essas bênçãos de luz".
Portanto, certamente que no dia de finados estarão os "nossos mortos" reunidos em maior número nos cemitérios, visto que há maior número de encarnados buscando-os pelos pensamentos, visitando tais lugares com os pensamentos fixos naqueles que "partiram".
Aqueles que partiram do Orbe para a Pátria Espiritual sempre estarão confortados com nossas preces e pensamentos elevados e sempre refrescar-se-ão por meio de nossas interceções junto ao Criador. Não só os Espíritos, mas nós encarnados com toda certeza nos sentiremos melhores por meio da prece. Assim, nossa aliança com o plano invisível tem o condão de tornar-se harmônica e feliz, sem o peso das angústias do ser e dos sofrimentos da alma que tanto nos castigam e nos ligam a laços e convivências tão pesarosas com nossos irmãos.

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