"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


domingo, 11 de outubro de 2009

Outras faces da violência

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
(João 8:32)


Segundo os ensinamentos doutrinários (da doutrina espírita), o planeta Terra encontra-se na faixa dos mundos de prova e expiações, em razão da "tipologia" de espíritos nela reencarnados.

E, se reflexionarmos de forma madura sobre o assunto, compreenderemos que essa situação irá perdurar ainda por mais um tempo considerável, ou seja, a Terra será ainda, por um razoável lapso de tempo, um lugar de dores e aflições, de prova e expiações, ainda que tenhamos a confortável e segura informação de que o planeta esteja passando, e realmente está, por um período de transição.

Obviamente isso ocorre, como já sabemos, porque tudo aqui, como no Universo, encontra-se em constante transformação, rumo à evolução, e toda transformação, bem como toda evolução, porém, leva tempo. A natureza não dá saltos. E tudo isso implica anos, ou milhares de anos.

Dessa forma, sendo a Terra um mundo de prova e expiações, o que implica dores e aflições, fica fácil compreendermos que nosso planeta não comporta, e nem pode comportar, felicidade plena e completa para nós, seus habitantes.
Jesus há dois mil anos nos advertia: "Meu Reino não é deste mundo".

E, por toda parte, no seio de todos os povos que habitam o planeta Terra, nos deparamos com a presença de conflitos, da fome, da guerra, do desemprego, das injustiças sociais, despertando no coração da alma coletiva, em várias ocasiões, o sentimento de abandono, de que Deus nos deixou abandonados a mercê das ondas de azar, longe de suas Providências Celestiais, como se o Criador tivesse nos esquecido e nos relegado aos ventos do acaso.

Entretanto, dentre os "temas" que mais têm atormentado a consciência coletiva, o da violência tem tido maior destaque.

Não tão somente circunscrita pelo medo e não se limitando, ainda, a estampar os noticiários que, aliás, todos os dias se apresentam recheados de páginas sangrentas e dolorosas, a questão da violência vem se fazendo mais e mais aterradora.

Tais situações se apresentam como resultado dos tempos de frieza e insensibilidade em que vivemos, mas que, da mesma forma, penetra o nosso cotidiano como um pão amargo que todos nós devêssemos digerir todos os dias como se fosse um dos pratos principais de nossas refeições diárias de desgostos.

E, o que é pior, tudo isso vem acontecendo como se agíssemos sob efeitos narcóticos, alucinados, dopados, sem sabermos definir nossos próprios rumos, como se todas essas "cenas cotidianas", cenas da novela da vida real, por sinal, tivessem se incorporado ao nosso "modus vivendi" como algo absolutamente natural.

Princípios e valores morais, então, são como se não existissem.

Ou, por outro lado, agimos ainda como se estivéssemos vivendo às pressas, motivados pela ânsia do "querer" e do "consumir" e do "amealhar mais". Do "ter" e não do "ser". Amealhar tudo aquilo que nenhuma valia tem para o espírito.

Mais uma vez, valores e princípios morais e cristãos ficaram esquecidos.

Mas, ao mesmo tempo em que a "propaganda" da violência alimenta e instiga os pensamentos das almas enfermas e inseguras a perpetrá-la, as ações dessas almas violentas alimentam jornais e noticiários como uma cadeia de misérias de todos os níveis que acabam por afligir, chocar e entristecer o coração e os sentimentos de tantas outras almas que se compadecem daqueles que sofrem.

No entanto, a violência possui outras faces além da guerra, onde se matam aos mil de uma só vez para defender interesses de minorias que não chegam a dezenas, além, ainda, dos tiroteios nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo à lei do "olho por olho dente por dente" dos Sertões Nordestinos e dos campos selvagens do Norte do país, que levam à morte centenas de inocentes todos os dias, bem como das perseguições e atentados religiosos ou políticos em que se secrificam almas "em nome (da ignorância) de Deus" ou em favor do poder de mando e do abuso do poder econômico.

Apresentam-se essas outras faces da violência como DESEMPREGO, FOME, FALTA DE MORADIA, FALTA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE, ANALFABETISMO, dentre tantas outras a ferirem a dignidade humana.

Mas, infelizmente, essas outras faces da violência, que embora já tenham passado, também, a fazer parte do nosso cotidiano amargo de aflições, ainda são vistas por nós como problemas meramente sociais, de responsabilidade exclusiva dos Governos, mas que, não olvidemos, são caminho rumo a todas as demais forma de materialização da violência propriamente dita, a qual, não há dúvida, é de nossa inteira responsabilidade, principalmente quando partimos do pressuposto de que o Estado somos todos nós.

Como violências "ocultas", que da mesma forma recheiam os noticiários todos os dias, não nos chocam com a mesma frequência e proporção com que nos chocam as páginas sangrentas dos jornais, fato este que encontra explicação óbvia pelo fato de que ainda nos deixamos levar - sendo-nos mais apetitoso - pelo maravilhoso, pelo sensacional, pelo drástico, pelas ilusões, conservando, assim, no íntimo do nosso ser, as nossas origens bárbaras, das quais ainda não nos despojamos por completo e ainda levaremos um tempo para nos livrarmos.

Mas, podemos considerar ainda que, das celas mais terríveis que aprisionam o ser humano, a ignorância é a pior.
Ignorar é não conhecer. E, não conhecer é a violência mais cruel que o homem pratica contra si mesmo. O fato de desconhecer induz a pessoa aos labirintos escuros das torpezas.

Isso ocorre exatamento porque aqueles que não possuem conhecimento não podem dispor das possibilidades de escolha, de opinião, de orientar-se a si próprios e, principalmente, de agir conforme seu livre-arbítrio, simplesmente porque não sabem.

Nesse campo, a sordidez e a criminalidade ganham tempero especial quando se deparam com a ignorância.

Com toda segurança, a melhor forma de se promover a liberdade de um povo é através da lucide e do conhecimento.

Assim, sempre será um ato de amor, um gesto de caridade e solidariedade ao próximo, a troca ou a exteriorização de informações de que dispomos ou conhecemos, no intuito de abrirmos a mente e destravarmos as capacidades intelectuais do outro, carente de conhecimentos.

Estaremos não só dando-lhe a oportunidade de aprender para que possa exercer sua liberdade, mas, principalmente, estaremos evitando-lhe o desgosto da pior das violências, ou seja, a do analfabetismo, materializado em ignorância, nas mais diversas formas.

Analfabeto, no sentido mais amplo que aqui pretendemos empregar, não é, portanto, somente aquele que não sabe ler e escrever. É, principalmente, aquele que não sabe se direcionar conforme seus anseios, pensamentos e necessidades, incluindo-se aí, também, aqueles que não sabem trilhar sua existência, suas experiências e suas vivências conforme os princípios éticos, morais e cristãos.

É, pois, no analfabetismo, na ignorância, no desconhecer, que encontramos a irrefletida incredulidade, a aceitação ridiculamente sentimental que ignora e despreza a razão e, por fim, a acomodação ingênua que nos priva da busca pelo melhor.

Ainda na ignorância se apóiam o imediatismo e, por conseguinte, o desespero mediante as dificuldades cotidianas, inerentes à vida, como decorrência lógica da Lei Universal, de causa e efeito, ação e reação, bem como a mentira dourada ou a ilusão de um mundo idealizado dentro dos padrões da falsa felicidade, o qual não vamos encontrar jamais, além da extorsão passivamente aceita, enfim, o empobrecimento intelectual da criatura que, certamente, se contrapõe ao seu progresso material, moral e, acima de tudo, espiritual.

Sobre o tema, referindo-se ao mais civilizado dentre os povos, em O Livro dos Espíritos, em nota à pergunta 793, Kardec pondera que "o mundo mais civilizado dentre os povos é aquele em que se encontre menos egoísmo, menos cupidez e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais do que materiais; onde a inteligência possa se desenvolver com mais liberdade..." (grifamos).

Assim, concluímos, sem embargo, que o analfabetismo, incluindo-se aí todos os tipos de ignorância, configura-se em verdadeira violência e, diríamos, talvez, a pior delas, por conduzir o homem à todas as demais, eis que fosse o homem conhecedor (da Verdade), ainda que faltasse o trabalho para lhe garantir o pão de cada dia, ainda que não tivesse o pão para lhe saciar a fome, o sapato para lhe calçar os pés descalços, a roupa para lhe aquecer o frio, o teto para lhe servir de abrigo, o remédio para lhe amenizar as dores do corpo, a compreensão dos seus para lhe dar a segurança e o amor de quem espera para lhe envolver o coração, não haveria na face da Terra um só resquício de violância, de luta, de resistência, uma gota de sangue sequer.

Fica-nos evidente que toda a violência que assola o Planeta, inclusive a da ignorância, não constitui problema meramente social de responsabilidade dos Governos. Mas, as mais diversas faces da violência são, é verdade, situações que afligem, dilaceram e apunhalam a alma coletiva e que cabem somente ao homem, cada um em sua individualidade e no seu particular, fazer, cada qual, a sua parte para que esse quadro lamentável em que a Terra se encontra possa mudar (e mudar para melhor), para, depois, cada um, individualmente solidificado pela consciência do progresso, da moral, do espírito e da verdade possa, então, unir-se uns aos outros, formando uma coletividade a ajudar-se mutuamente.

Vale lembrarmos que não há como pensar em ajudar enquanto precisamos de ajuda, enquanto se faz necessário sermos ajudados. Por isso, imprescindível, primeiramente, o crescimento individual, a educação individual, o progresso individual e a conscientização individual.

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