Entendemos que os Espíritos, ao afirmarem, na pergunta de número 356, que "sim, há os (natimortos) que jamais tiveram um Espírito designado para os seus corpos", bem como ao responderem à pergunta de número 136-A ("O corpo pode existir sem a alma? Sim;..."), outra coisa não quiseram nos dizer que não seja que o corpo físico pode existir sem alma.
Concluimos, então, que é possível a cocepção de um corpo sem um espírito ligado a ele e que, nesses casos, logicamente, quando do nascimento (uma vez que pode chegar a termo), o corpo não sobrevive; uma vez que não há uma alma a animá-lo, ter-se-á um natimorto. Isso para nós, porém, não significa que todos os natimortos foram gerados sem que tivessem ligado a si um espírito.
Importante buscarmos aqui, para melhor compreensão do assunto, os conceitos de "princípio vital" e "princípio espiritual". "Princípio vital" exprime a ideia de "vida", ou seja, aquilo que vitaliza a matéria. Porém, o princípio vital tem apenas o efeito de fazer movimentar molecurlamente a matéria. Já o "princípio espiritual" consiste na "razão", ou seja, proporciona o raciocínio; faz agir com inteligência o que antes era um agregado de carne, isto é, o corpo físico. Em suma, o "princípio espiritual" proporciona, por ação do Espírito, a vida de relação.
Os Espíritos nos deixam claro esse entendimento ao afirmarem na parte final da pergunta 136-A, que "a vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica".
Mas, qual a razão disso (ou seja, da existência de um corpo sem utilidade para reencarnação de um espírito)? Os Espíritos respondem que os natimortos nessa condição vieram pelos pais, somente. Ou seja, vieram em razão da necessidade somente dos pais.
A este respeito, André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, no Capítulo 33, p. 107, descreve com propriedade o "fenômeno": "— Como compreenderemos os casos de gestação frustrada quando não há Espírito reencarnante para arquitetar as formas do feto? — Em todos os casos em que há formação fetal, sem que haja a presença de entidade reencarnante, o fenômeno obedece aos moldes mentais maternos. Dentre as ocorrências dessa espécie há, por exemplo, aquelas nas quais a mulher, em provação de reajuste do centro genésico, nutre habitualmente o vivo desejo de ser mãe, impregnando as células reprodutivas com elevada percentagem de atração magnética, pela qual consegue formar com o auxílio da célula espermática um embrião frustrado que se desenvolve, embora inutilmente, na medida de intensidade do pensamento maternal, que opera, através de impactos sucessivos, condicionando as células do aparelho reprodutor, que lhe respondem aos apelos segundo os princípios de automatismo e reflexão. Em contrário, há, por exemplo, os casos em que a mulher, por recusa deliberada à gravidez de que já se acha possuída, expulsa a entidade reencarnante nas primeiras semanas de gestação, desarticulando os processos celulares da constituição fetal e adquirindo, por semelhante atitude, constrangedora dívida ante o Destino."
Cabe, então perguntar, sob o ponto de vista prático, como saber se ao corpo está ou não ligado um espírito? Os Espíritos nos esclarecem que nem tudo nos é permitido conhecer. Assim, entendemos que a Sabedoria Divina (a qual tem seus propósitos que muitas vezes, na maioria delas, desconhecemos) limitou-se a permitir-nos pura e simplesmente saber que existe a possibilidade de um corpo ser gerado sem que a ele esteja ligado um espírito ou sem que para ele tenha sido designado um espírito para reencarnar. No entanto, não nos deixou uma "receita" ou uma prescrição de como saber se tal ou qual feto está destinado à reencarnação de um espírito. Cremos que, se o Criador assim o quisesse, se julgasse-nos capazes de compreender tal informação, se reconhecesse que não incidiríamos em excessos ou novos erros de posse de tal informação e se, por fim, não estivéssemos em estágios probatórios complexos, onde somos "medidos" e "testados" sob todos os ângulos do nosso caráter moral, teria o Criador permitido a divulgação dessa informação por meio dos Espíritos, assim como o fez em relação às demais.
Muito interessante e importante, neste aspecto, o esclarecimento e o alerta da respeitável Dra. Marlene Nobre ao discorrer sobre a questão do anencéfalo no endereço eletrônico da Associação Médico-Espírita do Brasil, o qual pedimos venia para transcrevermos: "Os confrades favoráveis ao aborto do anencéfalo alegam que nele não há Espírito destinado à reencarnação conforme explica O Livro dos Espíritos. Aqui, detectamos um erro clássico: não se pode basear unicamente em uma resposta dos Instrutores Espirituais. Levantemos todas as respostas que eles nos dão acerca da formação dos seres humanos e destaquemos as mais importantes para a elucidação deste assunto. Dizer que há corpo sem espírito, não significa dizer que determinado “tipo” ou grupo de corpos (ou embriões, no caso os embriões originados da fecundaçao ‘in vitro’) não possui espírito, mas sim que pode haver a possibilidade de se gerar um corpo sem espírito". E acrescenta: "Na questão 344, eles afirmam que a união da alma com o corpo dá-se no momento da concepção; um pouco mais adiante, na de nº 356, advertem que há corpos para os quais nenhum Espírito está destinado, explicando que isto acontece como prova para os pais. E ainda no desdobramento desta questão enfatizam que a criança somente será um ser humano se tiver um espírito encarnado. Se juntarmos todas estas respostas, concluiremos que os corpos para os quais poderíamos afirmar que nenhum espírito estaria destinado seriam os dos fetos teratológicos, monstruosos, que não têm nenhuma aparência humana, nem órgãos em funcionamento. Como vimos, nada disto se aplica ao anencéfalo, porque o espírito comanda, ainda que precariamente, um organismo vivo (um corpo pode ter vida orgânica- onde tudo funciona direitinho – sem, entretanto, possuir um espírito. Porém, um corpo jamais poderá ter um espírito se desprovido da vida orgânica)".
Para finlizarmos, apenas uma ressalva nos apresenta relevante: vale destacar que os Espíritos nos adverte, tanto na pergunta de número 356, quanto na de número 136, que, embora seja possível a existência de um corpo sem alma/espírito, tal não pode ser considerado um humano. Com efeito, ser humano é um corpo material, animado por um princípio orgânico (princípio vital), somado a um princípio inteligente (princípio espiritual). Sem um dos dois requisitos, não podemos dizer que é um ser humano ("Não seria um ser humano" - pergunta 356-B; "Massa de carne sem inteligência, tudo o que desejardes, menos um homem" - pergunta 136-B). No trecho transcrito acima, a Dra. Marlene Nobre acrescenta que seriam os fetos teratológicos, mosntruosos, que não têm nenhuma aparência humana, nem órgãos em funcionamento. Entendemos, porém, que quando os Espíritos se referem a "corpo de carne", ägregado de carne", "massa de carne", não querem se referir à forma do corpo propriamente dita, nestes casos, ou seja, de corpos sem alma/espírito, mas pura e simplesmente à constituição material desses fetos, pois, sem dúvida, um corpo sem alma não passa de uma massa de carne onde a inteligência nunca irá habitar. Em suma, no dizer dos Espíritos, "seria tudo, menos um ser humano".
Mesmo após algum tempo após a postagem gostaria de dizer que foi muito bem abordado este estudo, este discernimento, bem lógico com a Doutrina Espírita. Tivemos também esta dúvida, houveram os "sim" e os "não". Parabéns! Sérgio.
ResponderExcluirMaravilhoso vc respondeu a uma dúvida que surgiu também em nosso grupo de estudo,e eu fiquei encarregada de sanar,adorei a explicação e vou repassar,muito obrigada!
ResponderExcluirengraçado que está tudo muito bem escrito e esclarecido por Kardec, mas mesmo assim, não sei se por questões pessoais ou por falta de atenção nas leituras das obras básicas (ou falta de leitura) as pessoas continuam a pensar de maneira tão dura em relação a esse tema...
ResponderExcluirMas devemos continuar respeitando as diferentes opiniões e pensamentos!
Excelente raciocínio. No nosso grupo de estudos também tivemos essa dúvida. Muito obrigada por saná-la.
ResponderExcluirHoje, lendo o Livro dos Espíritos, me veio essa dúvida, quanto a pergunta 136. Agradeço o esclarecimento.
ResponderExcluirA Doutrina Teosófica de Blavatsky é categórica em afirmar que existem seres humanos que não são humanos por não possuírem Alma ou Espírito. Estes portanto são mortais por natureza, e tais seres são chamados "zumbis" ou "desalmados", menos um ser humano. Também é categórica em afirmar que a grande maioria destas criaturas (senão todas) são a materialização de larvas astrais, da crueldade do ser humano. Tais zumbis ou desalmados são essencialmente maldosos e cruéis e são involutivos, pois desaparecerão para sempre.
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