"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


domingo, 11 de julho de 2010

Amar o próximo como a si mesmo

Os fariseus, que tomavam parte ativa nas discussões religiosas e que eram inimigos declarados dos inovadores, tinham os olhos voltados tão somente para as questões de interesse puramente pessoal e queriam, de alguma forma, ouvir de Jesus aquilo que lhes agradassem aos ouvidos, ou seja, queriam a aprovação de Jesus para sua devoção meticulosa que buscava, em verdade, mascarar uma fé cega voltada para a ostentação da virtude e para o amor excessivo pela dominação.

Assim sendo, após Jesus ter calado os saduceus, os fariseus se reuniram em assembléia e convocaram um doutor da lei para "testá-lo", tendo este lhe questionado sobre qual seria o maior mandamento da lei. Jesus, usando de sua sabedoria superior, respondeu-lhe: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos." (Mateus, cap. XXII, v. 34 a 40).

Jesus reuniu nestes dois mandamentos os dez mandamentos da lei mosaica, esclarecendo que se fôssemos capazes de cumpri-los, estaríamos cumprindo todos os demais e, ainda, que só seríamos capazes de amar a Deus se amássemos o nosso próximo e que, por sua vez, só poderíamos amar o nosso próximo se amássemos a Deus, instituindo, assim, a Lei de Amor como uma das condições para o "Reino do Céu".

Ou seja, para que possamos ser Espíritos evoluídos e para que possamos ver a Deus e conhecer a verdadeira felicidade que tanto almejamos, necessário, porém, que amemos o nosso Criador acima de todas as coisas - o que equivale dizer que devemos ter fé, confiança e respeito para com Deus - e, ainda, que amemos o nosso próximo como a nós mesmos cujo sentimento ainda se traduz na máxima "fazei aos homens tudo o que quereis que eles vos façam" (Mateus, cap. VII, v. 12).

Entretanto, no que consiste esse amor pregado pelo Mestre?

O amor é o mais sublime dos sentimentos. Quando da nossa criação, tínhamos tão somente instintos; estes, melhor lapidados, transformam-se em sensações, que, por sua vez, mais depurados elevam-se à condição de sentimentos ("O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. XI, item 8).

O sentimento do amor verdadeiro, que é o amor pregado por Jesus na passagem evangélica acima transcrita, não consiste, portanto, na afinidade que temos por aqueles que nos são caros, mas significa ter indulgência, benevolência e compaixão para com o nosso próximo.

Significa, portanto, reconhecer em nós mesmos todos os erros e imperfeições que apontamos nos outros, uma vez que, quase sempre, aquilo que julgamos e apontamos nos outros são os nossos próprios erros e imperfeições. Significa ainda compreender que, assim como nós, nosso próximo também tem limitações e imperfeições e se encontra em constante aprendizado, procurando acertar através dos próprios erros. Significa, finalmente, compreender o estado de ignorância em que ainda se encontra o nosso próximo e rogar a Deus o seu esclarecimento para que possa errar menos, guardando consigo que todos somos irmãos em Cristo.

Porém, Jesus ainda nos coloca duas situações complicadíssimas e quase que contrárias ao senso comum: Jesus nos esclarece que amar o nosso próximo também compreende a caridade para com os criminosos e o amor para com os nossos inimigos.

Quando nos deparamos com um crime tão bárbaro é muito difícil, praticamente impossível, pensarmos em caridade para com um criminoso tão cruel.

Na verdade, os criminosos são Espíritos que ainda não depuraram seus instintos e que, igualmente como ocorre com todos nós, serão um dia Espíritos evoluídos. São criaturas dignas de compaixão que ainda perambulam sob a névoa obscura da ignorância dos verdadeiros valores, da Bondade Divina e da Lei de Amor, mas que, assim como nós, foram criados pelo Pai com iguais oportunidades de renovação e de perdão.

São Espíritos endurecidos que mais do que qualquer outro necessitam da nossa compaixão, uma vez que comprazidos ao mal, contraem débitos incalculáveis dos quais terão de pagar até o último ceitil e o sofrimento que vem depois é maior do que qualquer apenação.

Necessitam, portanto, da nossa prece e da nossa caridade para que sejam tocados no íntimo de seus instintos, sensações e paixões para que possam compreender e enxergar o verdadeiro caminho e que leva à verdadeira felicidade, até que possam descobrir os verdadeiros sentimentos.

Igualmente dura é a tarefa de amar os nossos inimigos. Porém, os nossos inimigos, assim como os criminos, são os nossos irmãos em Cristo. Amá-los, pois, significa não julgá-los, não condená-los, visto que a suprema sabedoria pertence tão somente à Justiça Divina e os seus maiores juízes são as suas próprias consciências. A tarefa de amá-los ainda consiste no perdão, eis que o Cristo disse ser preciso perdoar setenta vezes sete vezes, na abolição de todo e qualquer sentimento de ódio, rancor, mágoa e vingança e na retribuição do mal com o bem.

O amor ao próximo é, portanto, o princípio da caridade. "Todos os deveres do homem se encontram resumidos na máxima 'fora da caridade não há salvação'." (Kardec).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poste aqui seu comentário. Obrigada pela colaboração!