(Amélia Rodrigues)
Diante do vasto Oceano, a pregação se fizera. Centenas de pessoas de todas as classes sociais e raças se faziam presentes no grande acontecimento.
Muitas pessoas, tocadas pelo singular magnetismo da Sua mensagem, saíram chorando do grande ato público. Doentes, muito mais aliviados nas suas dores, deixavam o local em grandes grupos, sendo carinhosamente amparados por seus familiares.
Algo novo estava no ar.
Era quase noite e o ar balsâmico da Galiléia penetrava o ambiente, criando uma atmosfera de refrigério e quietude.
Era uma noite de Nisan (1). O prenúncio de uma noite fresca era notícia alvissareira naqueles dias quentes, de sol a crestar os caminhos.
A massa de povo, em grandes bandos, deixou vagarosamente o lugar.
Somente Ele e os seus discípulos lá ficaram observando o lume das primeiras estrelas, que começavam a faiscar no sudário da noite.
Vênus àquela noite brilhava intensamente.
Em silêncio, o colegiado apostólico observava a dispersão silenciosa das pessoas, que em pequenos grupos iam demandando suas aldeias de origem. Pessoas havia que moravam muito distante e tinham vindo somente para a grande reunião ao ar livre.
O local foi ficando deserto.
Percebendo o silêncio que começava a se fazer, o Mestre tomou o rumo da aldeia próxima, onde se abrigaria por aquela noite. Algumas mulheres, quase que na escuridão, ainda aguardavam que o Mestre deixasse o local para o seguirem à distância.
Próximo a uma rocha encravada no solo, aquelas três figuras observavam a pequena caravana em torno de Jesus a se deslocar monte abaixo, demandando o acolhimento para o repasto da noite. O trio trazia consigo uma criança mirrada e doente, a choramingar continuamente.
A um olhar das criaturas em silêncio, aproxima-se Jesus trajando alva túnica e sandálias à romana. Os cabelos estão em desalinho por causa do vento forte que vinha das bandas do Mar de Tiberíades.
Olha o Cristo as três enigmáticas figuras e contempla apiedado o pequeno adoentado. Num misto de compaixão e paciência para com as impurezas humanas, quebra o silêncio reinante dizendo:
- Vieste de longe buscando a cura, Efraim, filho de Jorazel. A Misericórdia de Deus é muito grande e eu não tenho outra obrigação senão cumprir a vontade d’Aquele que me enviou: Eu quero que tu fiques limpo, Efraim, da enfermidade que te constrange!
O menino, nos braços da senhora em trajes humildes, repentinamente parou de chorar e a dama, em pranto discreto, retirou-se do local, desaparecendo na noite salpicada de estrelas.
Reza antiga tradição em Israel que este teria sido o derradeiro milagre de Jesus após o Sermão da Montanha, onde a Boa Nova estabeleceria para o mundo inteiro as bases do homem novo, que não adoece porque não se contamina com as enfermidades do mundo. Efraim é bem o símbolo dos que chegam depois da palavra de Jesus, buscando somente a cura dos males que afligem o corpo perecível.
Óh, homens de pouca fé, que deixastes para chegar depois, apressai o vosso passo e ide ao pé do monte para ouvir Jesus enquanto é dia! Logo depois amanhecerá, e é possível que o Mestre já não mais esteja nos caminhos que desembocam no grande Mar da Galiléia...
Amélia Rodrigues
*Nota do médium: 1. Nisam – Março/Abril em Israel.
(Página psicografada pelo médium Marcel Mariano em 26.06.1995, em Juazeiro/Ba. Texto copiado do site da Federação Espírita do Estado da Bahia: http://www.feeb.com.br/ ).
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