Conversava-se sobre o exercício da bondade e da justiça nos serviços filantrópicos de assistência aos carentes de todos os matizes. Chico Xavier comentou, bem-humorado:
– Ser bonzinho é fácil; difícil é ser justo.
– Ser bonzinho é fácil; difícil é ser justo.
Disse muito em poucas palavras. Em face de nossas limitações, é complicado conciliar a bondade com a justiça.
A mulher paupérrima, com um filho nos braços e outro grudado em sua saia, bate à porta. Compadecemo-nos e imediatamente lhe estendemos uns trocados. Ela se acostuma. Vem solicitar socorro, periodicamente. Damos-lhe algo, bondosamente. Bondade capenga, na base do vá embora logo e não me incomode. Aliviamos a consciência e nos livramos de sua presença.
Estaremos exercitando a justiça? Certamente, não. Justo seria conversar com ela, definir melhor suas carências, anotar seu endereço, visitá-la… Saber de suas reais condições. E se for viciada em viver de favores? Estaremos alimentando sua indolência.
Por outro lado, se for realmente necessitada, poderemos encaminhá-la a recursos da comunidade, instituições filantrópicas, órgãos governamentais, institutos de educação…
Faltam não apenas recursos aos carentes. Falta-lhes também orientação, estímulo, para que possam buscar a própria promoção, melhorando de vida. Um trabalho bem orientado nesse sentido, favorecendo a conciliação da justiça com a bondade, dificilmente será exercitado de forma isolada. Fundamental que participemos de obras sociais de benemerência, na condição de voluntários, para serviços diversos, visando o atendimento da população carente.
Aí, sim, estaríamos fazendo justiça e exercitando a verdadeira beneficência, que é, segundo Jesus, o empenho de nos colocarmos no lugar do outro, procurando sentir suas limitações e necessidades, dando-lhe apoio efetivo, além da simples esmola.
Há o reverso da moeda – a justiça sem bondade. As pessoas a exercitam quando criticam acremente aqueles que se comprometeram na violência, no vício, no crime, no desatino.
– Bandido tem que apodrecer na cadeia!
– É preciso instituir a pena de morte!
– Polícia deve atirar para matar!
– Se um facínora desses agir assim com filho meu, acabo com ele!
– Mulher adúltera tem que ser escorraçada do lar!
Para o homem comum, reações dessa natureza representam um exercício de justiça, uma reação ao mal, mas é a justiça de Moisés, do olho por olho, dente por dente.
Ocorre que ela cheira a vingança e foi superada pela orientação de Jesus, que textualmente, ensina (Mateus, 5:20): Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus.
Esse componente que vai além do olho por olho de Moisés é a bondade, que se coloca no lugar daquele que se comprometeu no mal, buscando identificar os fatores adversos que pesaram em seu comportamento.
Não é novidade nenhuma que a grande maioria dos criminosos é de extrema carência cultural e espiritual, que os leva a apelar para a delinqüência a fim de resolver seus problemas. E podem ocorrer funestas conseqüências. Por não termos exercitado a bondade temperada de justiça, com aquela mãe que batia à nossa porta, seu filho, por falta de orientação e amparo, poderá converter-se no criminoso que nos agredirá, inspirando indignação e o desejo de que lhe sejam longas e pesadas as grades.
Acabamos falhando em dois tempos.
Ontem.
Fomos bonzinhos com a pobre mãe, esquecendo a justiça.
Hoje.
Queremos os rigores da justiça para seu filho, esquecendo a bondade.
(Texto de Richard Simonetti, recebido por e-mail).
Richard Simonetti
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