"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


domingo, 31 de janeiro de 2010

Chico Xavier - "Tenha paciência, meu filho!"


     "Quando Dona Maria João de Deus desencarnou, em 29 de setembro de 1915, Chico Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona Rita de Cássia, velha amiga de sua mãe e madrinha da criança.
      Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se destemperava, irritadiça.
     Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de marmeleiro, recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa senhora inventara esse estranho processo de torturar.
     O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas, com os garfos dependurados na carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de desabafar e, porque a madrinha repetia, nervosa:
      — Este menino tem o diabo no corpo.
     Um dia, lembrou-se a criança de que a Mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando-o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar. Ajoelhou-se sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera dos lábios maternais.
     Quando terminou, oh! maravilha! Sua progenitora, Dona Maria João de Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado.
     Chico, que ainda não lidara com as negações e dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras da morte. Abraçou-a, feliz, e gritou:
     — Mamãe, não me deixe aqui... Carregue-me com a senhora...
     — Não posso — disse a entidade, triste.
     — Estou apanhando muito, mamãe!
     Dona Maria acariciou-o e explicou:
     — Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar.
     — Mas, — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo.
     — Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não maisreclamar, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
     Em seguida, desapareceu. O pequeno, aflito, chamou-a em vão.
     Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos sem revolta e sem lágrimas.
     — Chico é tão cínico — dizia Dona Rita, exasperada, — que não chora, nem mesmo a pescoção.
     Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um “menino aluado”.
     E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correr-lhe em pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, sob as  velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
     Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos."

("Lindos casos de Chico Xavier", Segunda Parte, Capítulo 1, Ramiro Gama).

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