"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Tragédias e mortes coletivas

"Solidários seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos." (Bezerra de Menezes)



- Débitos passados (expiações);
- Aprendizado - prática da Caridade e da Lei de Amor (provas);
- "Limpeza" do Planeta Terra (transição planetária);
- Imprevidência do Homem.

Queridos amigos e leitores do Blog, em tão poucos dias presenciamos tragédias devastadoras, capazes de tocarem o íntimo dos nossos sentimentos mais remotos de piedade e compaixão para com os nossos irmãos em Cristo.

Mal assistimos à ação triste e devastadora das chuvas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, em especial em Angra dos Reis/RJ e em São Luiz do Paraitinga/SP, e nos deparamos com imagens assustadoras, de incalculáveis destruições, que mais pareciam cenas de filmes de guerra, terror e ficção, mas que, infelizmente, eram reais e aconteceram logo ali, no nosso "quintal", na nossa "vizinhança", causando um sentimento geral de grande comoção mundial.

Referimo-nos ao terrível terremoto ocorrido no Haiti, na noite deste 12 de janeiro de 2010, onde, calcula-se, tenham desencarnado mais de 100 mil pessoas.

Além destas, ainda podemos citar tantas outras tragédias catastróficas, independentes, em tese, da ação humana, ocorridas nos últimos anos e que, igualmente, chocaram o mundo, cujos resultados foram devastação, destruição em massa e mortes coletivas, como, por exemplo, as grandes enchentes em Santa Catarina no final do ano de 2008, a queda do avião da TAM sobre um prédio da própria empresa na cidade de São Paulo em julho de 2007, o furacão Katrina que devastou New Orleans nos EUA em agosto de 2005, o terrível tsunami ocorrido em dezembro de 2004 na Indonésia, dentre outras.

Mas, quando Jesus anunciou a Boa Nova na Terra, ensinou-nos que Deus é soberanamente Bom e Justo e que o "deus vingativo e investido de jurisdição" que figurava na Lei Mosaica não é o Deus Verdadeiro.

Tudo isso parece, entretanto, um paradoxo incompreensível: Ora, se Deus é todo Bondade e todo Justiça, por que permitiria que pessoas inocentes (ao menos aparentemente), sendo muitas delas ainda crianças que nenhum mal praticaram para merecer tamanho castigo, fossem flageladas e condenadas, dura e dolorosamente, à penas tão severas? Existe bondade ou justiça em permitir ou deixar que pessoas sejam submetidas a acontecimentos tão catastróficos que deixam apenas dor e desolação, tirando dessas pessoas ainda o que elas não têm, como é o caso, por exemplo, do Haiti, um país pobre por natureza, alvo de outras tragédias ocorridas no passado, castigado pela escravidão e, posteriormente, pela triste ditadura sem, entretanto, possuir sequer o básico para o exercício da vida digna?


Analisando a questão com os olhos puramente da matéria, sem considerarmos que a vida é infinita, que o espírito sobrevive à matéria (ou seja, à morte do corpo físico) e que este mesmo espírito passou por experiências/existências pretéritas, assim como passa pela experiência/existência presente e que, da mesma forma, passará por experiências/existências futuras, inconcebível seria admitir a existência de um Deus soberanamente justo e bom diante de tanto sofrimento e, certamente, não encontraríamos sequer uma explicação lógica para tais fatos ou acontecimentos.

A razão de ser dessas tragédias que resultam em mortes coletivas apenas poderia ser explicada, portanto, pela bênção da reencarnação e da existência infinita do espírito para além da matéria.

Decorre da lei humana que todo aquele que, por ação ou omissão, causar dano a outrem, deve-lhe reparar o prejuízo.

No entanto, decorre da Lei Universal que à toda ação corresponde uma reação, ou seja, toda causa produz um efeito.

É assim que chamamos a Lei Universal de Lei de Causa e Efeito.

Todo ato ou omissão humana gera para o seu agente, portanto, uma responsabilidade. Todos nós, cedo ou tarde, seremos chamados à responsabilidade de nossos atos, atitudes e omissões, sejam elas boas ou ruins, de modo que, incontestavelmente, estamos destinados a “colhermos aquilo que plantarmos”.

Sob essa ótica, temos que as tragédias coletivas são as “respostas”, ou melhor dizendo, as consequências da Lei de Causa e Efeito.

Portanto, as tragédias coletivas nada mais são do que as faltas coletivas que são expiadas coletivamente, consoante nos esclarece o Espírito Clélia Duplantier, no Livro “Obras Póstumas”, de Kardec, Primeira Parte, no capítulo intitulado “Questões e problemas – As expiações coletivas, p. 265, Ed. FEB: “Salvo exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que têm uma tarefa comum reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer dizer, expiado o passado, ou cumprido a missão aceita. Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provas que não resultam de atos da vida presente, porque já vos foi dito que é a quitação de dívidas do passado; por que não ocorreria o mesmo com as provas coletivas? Dissestes que as infelicidades gerais atingem o inocente como o culpado; mas sabeis que o inocente de hoje pode ter sido o culpado de ontem? Que tenha sido atingido individual ou coletivamente, é que o mereceu. E, depois, como dissemos, há faltas do indivíduo e do cidadão; a expiação de umas não livra da expiação das outras, porque é necessário que toda dívida seja paga até o último centavo. As virtudes da vida privada não são as da vida pública; um, que é excelente cidadão, pode ser muito mau pai de família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser um mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. São essas faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião, ou ter a ocasião de repararem o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública, socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram. O que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, sem a preexistência da alma, se torna claro e lógico pelo conhecimento dessa lei. A solidariedade, que é o verdadeiro laço social, não está, pois, só para o presente; ela se estende no passado e no futuro, uma vez que as mesmas individualidades se encontraram, se reencontram e se reencontrarão para subirem juntas a escala do progresso, prestando-se concurso mútuo. Eis o que o Espiritismo faz compreender pela equitativa lei da reencarnação e a continuidade das relações entre os mesmos seres”.

Seguindo igual raciocínio, ainda vamos encontrar na obra mediúnica de Chico Xavier, no Livro “Chico Xavier pede licença”, no Capítulo 19, intitulado de “Desencarnações coletivas”, as seguintes explicações de Emmanuel, ao ser indagado em reunião mediúnica na cidade de Uberaba/MG, na noite de 20/08/1972, sobre a razão de Deus permitir a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como, por exemplo, nos casos de incêndio: “Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor, aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio. Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente. É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla. Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos. Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras. Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e lágrimas. Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação. Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as consequências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança. É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida. Lamentemos sem desespero quantos se fizeram vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontam são igualmente nossos. Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor".

Ainda no Livro “O Consolador”, de Emmanuel, psicografado pelo médium Chico Xavier, na pergunta 250, encontramos a seguinte resposta à questão de como se processa a provação coletiva: “Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas da dívida do pretérito para os resgates em comum, razão porque, muitas vezes, intitulais ‘doloroso caso’ às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais".

Por fim, no Livro “Temas da vida e da morte”, de Manoel Philomeno de Miranda, por Divaldo Pereira Franco, no capítulo intitulado “Flagelos e males”, encontramos a seguinte explicação para esse tipo de acontecimento: “O abuso das paixões, e não o uso correto que leva aos ideais do amor e ao arrebatamento pelas causas nobres, é o agente dos flagelos e males que se voltam contra o próprio homem e o infelicitam".

Vale frisarmos, pois, que, se tais ocorrências são as conseqüências, ou seja, os efeitos, perante a Lei de Causa e Efeito, várias são (ou poderão ser), no entanto, as causas que as originaram.

O Livro “Ação e Reação”, no Capítulo 18, intitulado “Resgates coletivos”, do espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier, nos traz explicações sobre as vítimas de um acidente de avião que provocou várias mortes: “Imaginemos que fossem analisar as origens da provação a que se acolheram os acidentados de hoje.... Surpreenderiam, decerto, delinquentes que, em outras épocas, atiraram irmãos indefesos do cimo de torres altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no chão; companheiros que, em outro tempo, cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar, pondo a pique existências preciosas, ou suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, em supremo atestado de rebeldia, perante a Lei, os quais, por enquanto, somente encontram recurso em tão angustioso episódio para transformarem a própria situação".

Em outra ocasião, os Mentores Espirituais se pronunciaram em esclarecimento, através da narrativa de Humberto de Campos, inserida no Livro “Cartas e crônicas”, no Capítulo 6, da Editora FEB, a respeito da tragédia ocorrida no dia 17 de dezembro de 1961, em um circo em Niterói/RJ, o qual estava lotado tanto de crianças quanto de adultos, quando um incêndio que atingiu grandes proporções acabou por ferir e matar centenas de pessoas queimadas, asfixiadas ou pisoteadas. Narra o amigo espiritual que, no ano de 177, em Lion, no sopé de uma encosta mais tarde conhecida como colina de Fourvière, improvisara-se grande circo, com altas paliçadas em torno de enorme arena. Era a época do Imperador Marco Aurélio, que se omitia quanto às perseguições que eram infligidas aos cristãos. Por isto a matança destes era constante e terrível. Já não bastava que fossem os adeptos do Nazareno jogados às feras para serem estraçalhados. Inventavam-se novos suplícios. Mais de vinte mil pessoas haviam sido mortas. Anunciava-se para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador. As comemorações para recebê-lo deveriam, portanto, exceder a tudo o que já se vira. Foi providenciada uma reunião para a programação dos festejos. Gladiadores, dançarinas, jograis, lutadores e atletas diversos estariam presentes. Foi quando uma voz lembrou: “Cristãos às feras!” Todos aplaudiram a idéia, mas logo surgiram comentários de que isto já não era novidade. Em consideração ao visitante era preciso algo diferente. Assim, foi planejado que a arena seria molhada com resinas e cercada de farpas embebidas em óleo, sendo reunidas ali cerca de mil crianças e mulheres cristãs. Seriam ainda colocados velhos cavalos e ateado fogo. Todos gargalhavam imaginando a cena. O plano foi posto em ação. E no dia seguinte, conforme narra Humberto de Campos, ao sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, encontraram a morte, queimadas ou pisoteadas pelos cavalos em correria. Afirma o cronista espiritual que, quase dezoito séculos depois, a Justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou os responsáveis em dolorosa expiação na tragédia do circo, em Niterói/RJ (http://www.forumespirita.net/fe/artigos-espiritas/tragedias-e-mortes-coletivas/ ).

No caso das grandes enchentes que abalaram o Estado de Santa Catarina no final do ano de 2008, lembramos, por exemplo, de uma reunião mediúnica realizada no Grupo de Estudos Espíritas “A Caminho da Luz”, na cidade de Cajobi, em vibração e preces às vítimas, em que um amigo espiritual daquela Casa de Oração nos enviou a sua mensagem alertando-nos de que, dentre outras causas, os flagelados eram pessoas de espírito separatista e individualista que necessitavam, assim, expiar o orgulho e o egoísmo, dando lugar à humildade e à fraternidade e que, após o ocorrido, certamente sairiam do infortúnio muito mais fortalecidos e solidários, tendo aprendido a exercer a união e a harmonização entre os povos.

E, como tudo no Universo desempenha o seu papel de utilidade, nós que não fomos diretamente atingidos pelos grandes desastres coletivos, acabamos, de certa forma, indiretamente atingidos, de modo que, ao presenciarmos nossos irmãos em Cristo passando por tantos males, sofremos com suas desventuras e amargores, com eles nos solidarizamos e, muitas vezes, mesmo de longe, com eles choramos.

Prova maior disso é a união de dois ex-chefes de Estado e um Presidente (Clinton, Bush e Obama), inimigos políticos, porém, cujo poder da maior nação e potência mundial já esteve em suas mãos e hoje se encontra nas mãos do terceiro, para promoverem uma campanha em socorro às vítimas da grande tragédia no Haiti, território onde, outrora, essa mesma potência mundial já praticou os seus desmandos e provocou os seus “estragos”.

É aí que a Sabedoria Divina opera mais uma vez, a fim de provarmos até que ponto vai a nossa capacidade e a nossa condição de praticarmos a Caridade e a Lei de Amor ao próximo, bem como nos dá, ainda, a chance de ajudarmos os nossos irmãos em Cristo e nos tornarmos mais dóceis, mais misericordiosos e mais fraternos para com o próximo, exercendo, de fato, o grande mandamento da Lei de Deus: “amai ao próximo como a ti mesmo!”.

Por outro lado, temos que o Planeta está passando pela transição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração e clama para que possamos operar em nós grandes mudanças e renovação a fim de que possamos todos acompanhar a sua evolução que, caso contrário, estaremos fadados, talvez, à nossa última encarnação na face do Globo.

Sendo assim, a exemplo de Capela, o Orbe está passando por profundas depurações, de modo que, para que haja mudança, deve haver também “limpeza”.

Tal é a lição dos Espíritos implícita na questão de número 728, de “O Livro dos Espíritos”, de Kardec, ao afirmarem que “é preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar, porque o que chamais (o que chamamos) destruição não é senão uma transformação que tem por objetivo a renovação e o melhoramento dos seres vivos”.

Mais adiante, na questão de número 737, também de “O Livro dos Espíritos”, de Kardec, os Espíritos elucidam que o objetivo com que Deus atinge a Humanidade por meio de flagelos destruidores é “para fazê-la progredir mais depressa” e acrescentam: “Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Não os julgais senão sob o vosso ponto de vista pessoal e os chamais de flagelos por causa do prejuízo que vos ocasionam. Mas esses transtornos, porém, são freqüentemente necessários para que mais prontamente se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”.

Prosseguindo, na questão 738, do mesmo Livro, sobre a possibilidade de se empregar outros meios, que não sejam os flagelos destruidores, para o aprimoramento da Humanidade, os Espíritos alertam que o Criador os emprega todos os dias para que todos possam se regenerar, “visto que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal”, mas que, no entanto, “o homem não se aproveita desses meios”, razão pela qual se faz necessário “castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir sua fraqueza”.

Quanto à justiça de se empregar tais meios (flagelos destruidores) para a regeneração da Humanidade, visto que nestes tanto sucumbe o homem de bem quanto o perverso, os Espíritos respondem, em continuidade à questão 738, que “durante a vida, o homem relaciona tudo com o seu corpo, mas, depois da morte, ele pensa de outra forma e, como já dissemos, a vida do corpo é pouca coisa. Um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias, ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam, é verdade, um ensinamento que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real (85). Esses são os filhos de Deus e o objeto de toda a Sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles”.

Continuando, sobre a utilidade dos flagelos destruidores, sob o ponto de vista físico, apesar dos males que possam ocasionar, os Espíritos nos asseguram, na questão 739, que eles são úteis ao passo que “eles mudam, algumas vezes, o estado de uma região inteira”, mas que “o bem que disso resulta não é, frequentemente, percebido senão pelas gerações futuras”.

Quanto ao fato de os flagelos destruidores se constituírem, igualmente, de provas morais para o homem, as quais o submetem às mais duras necessidades, os Espíritos respondem, na questão 740, que “os flagelos são provas que fornecem ao homem a ocasião de exercitar a sua inteligência, de mostrar a sua paciência e sua resignação à vontade de Deus, e o orientam para demonstrar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se ele não está mais dominado pelo egoísmo”.

Finalmente, Deus nos proporcionou o Planeta para que ele nos servisse de moradia, disponibilizando-nos todos os recursos a ele inerentes em quantidade necessária e suficiente para a nossa sobrevivência, nem mais e nem menos, assim como nos proporcionou o corpo físico para que nos servisse de vestimenta ao espírito, com o intuito de que pudéssemos enfrentar nova experiência na carne e no Plano Físico e, assim, buscarmos a renovação e atingirmos o progresso.

Em razão disso, o Criador espera, no mínimo, que cuidemos do Planeta, assim como de nosso corpo, para que o primeiro seja preservado não só para nos render os frutos de que necessitamos para a vida saudável na carne, como também para que ele sirva de abrigo e morada para as futuras gerações; e, igualmente, que cuidemos da vestimenta do nosso espírito (o corpo físico) para que ele seja preservado o tempo suficiente destinado à nossa existência presente.

Desse modo, pode o homem tanto evitar ou abreviar suas próprias tragédias, quanto, também, por meio de sua imprevidência, ampliá-las ou, até mesmo, buscá-las ou criá-las.

Analisando os deslizamentos ocorridos em Angra dos Reis na virada do ano, sem qualquer pretensão de julgamento aos nossos irmãos em Cristo, temos que a construção ao pé do morro é sempre arriscada e perigosa e, por isso, necessita de um estudo eficiente sobre as condições do solo, bem como sobre as possibilidades favoráveis de se construir no determinado local, respitando-se, por conseguinte, o "espaço" da Natureza, além dos devidos cuidados com erosão do solo, dentre outros, de modo que a inobservância de qualquer um dos cuidados devidos implica inconsequência humana.

Certamente que os atingidos pelos flagelos destruidores em tais situações retornarão ao Plano Físico em novos corpos muito mais conscientes e com a compreensão da vida melhorada, buscando cuidar de si próprios com mais carinho e atenção, com maior prudência e com maior intuito de preservação da vida. É dessa forma, pois, que Deus nos perdoa os erros e as nossas imprudências contra a nossa própria vida.

É a esse entendimento que os Espíritos nos levam na questão 741, de “O Livro dos Espíritos”: “Muitos flagelos são o resultado de sua imprevidência; à medida que ele (o homem) adquire conhecimento e experiência, pode conjurá-los, quer dizer, preveni-los, se sabe procurar-lhes as causa. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os gerais que estão nos desígnios da Providência, e dos quais cada indivíduo recebe mais ou menos, a repercussão. A estes o homem não pode opor senão a resignação à vontade de Deus e, ainda, esses males são agravados, frequentemente, pela sua negligência”.

Comentando a questão, Kardec acrescenta que “entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, é preciso incluir na primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra. Mas o homem não encontrou na ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e na irrigação, no estudo das condições higiênicas, os meios de neutralizar, ou pelo menos atenuar, os desastres? Certas regiões, outrora assoladas por terríveis flagelos, não estão preservadas hoje? Que não fará, portanto, o homem por seu bem-estar material quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando ao cuidado de sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira caridade por seus semelhantes? (707)”.

Enfim, podemos concluir que o Pai, que é todo Bondade e Justiça, sempre nos concede novas oportunidades – ou por meio de novas existências, ou por meio de novas experiências dentro de uma mesma existência – de repararmos nossos erros e os danos por nós mesmos causados, em lugar de nos abandonar à pena lastimável da culpa à qual, não fossem a Bondade e a Misericórdia Divinas, seríamos eternamente aprisionados e condenados.

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