"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


quarta-feira, 3 de março de 2010

Esclarecimento: "Porque não sou espírita Kardecista", por Wladisney Lope

"Porém, nunca o repetirei demasiado, não aceiteis coisa alguma às cegas."
(Erasto, "O Livro dos Médiuns", Cap. V, item 98).

É muito comum encontrarmos afirmações do tipo "Espírita Kardecista", "Kardecismo". Isto, cada vez mais, vai se tornando natural no meio Espírita, em palestras, jornais e revistas. Porém o que me chamou a atenção foi o artigo da jornalista Renata Saraiva, no Jornal "Valor", de 15 de dezembro de 2000, intitulado "Loucura e espiritismo no Brasil". A chamada é a seguinte: "Historiadora estuda como a psiquiatria tratou o Kardecismo no início do século". O artigo trata da tese de doutorado da historiadora da Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP, Angélica Silva de Almeida, denominada "A Loucura Espírita no Brasil". Percebam que o termo "Kardecismo" foi utilizado como sinônimo de Espiritismo, demonstrando que a confusão iniciada no meio espírita começa a atingir, também, a mídia. Isto é tudo o que alguns inimigos da Doutrina Espírita desejam, pois ela deixaria de ser a revelação dada por uma plêiade de Espíritos liderados pelo Espírito da Verdade para ficar resumida em uma única pessoa. Antigamente falava-se em "espiritismo de mesa branca", "espírita de mesa branca" e "mesa branca",  as quais foram substituídas por "Kardecismo" ou "Kardecista", de modo que alguns centros chegam a incluir em sua denominação a expressão "Centro Espírita Kardecista".

Entre os espíritas ainda predomina o aprendizado verbal, ouve-se alguém dizer, acha-se bonito e vai se repetindo, sem se parar para refletir se isto condiz com o que aprendemos. Apenas como exemplo, já perceberam como o termo "karma" foi incorporado ao linguajar de alguns "espíritas"? O que mais ouvimos é que a leitura de "O Livro dos Espíritos" é muito difícil, por isto esta verdadeira enxurrada de romances, muitos deles com erros graves em relação à Doutrina, e que são vendidos dentro da própria Casa Espírita, eis que basta se dizer que o livro é psicografado para se tornar uma obra espírita, mas esta é uma história que fica para uma outra vez.

Para explicar porque não sou "espírita Kardecista", chamo em minha defesa o Sr. Allan Kardec que, sem dúvida, era o bom senso encarnado e que, já imaginando as distorções que poderiam ocorrer, fez questão de deixar bem claro, logo no primeiro parágrafo da introdução de "O Livro dos Espíritos", o seguinte: "Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim exige a clareza da linguagem para evitar confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras." E, mais à frente, esclarece: "Os adeptos do Espiritismo serão Espíritas ou, se quiserem, Espiritistas." (grifo nosso).

Recorro agora à equipe de Espíritos responsáveis pelo "O Livro dos Espíritos". Vamos aos Prolegômenos deste livro, que nos dizem: "Este livro é o repositório de seus ensinos, foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação, constituem obra daquele que recebeu a missão de os publicar".

Portanto, a simples leitura da Introdução e dos Prolegômenos de "O Livro dos Espíritos" já bastaria para que não criássemos termos novos para definir o que já está definido, e muito bem definido. Seria interessante ainda aos que se dizem "espíritas Kardecista" lerem o Capitulo I, de "A Gênese", que trata do "Caráter da Revelação Espírita" , em especial o item 45, que aqui reproduzimos: "A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum (grifo nosso). As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio de pessoa alguma; ninguém, por conseqüência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala, conforme esta predição registrada pelo autor dos 'Atos dos Apóstolos': 'Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos.' (Atos, cap.II, vv. 17,18.).Ela não proveio de nenhum culto especial, a fim de servir, um dia, a todos, de ponto de ligação."

Com base neste item, Kardec faz uma nota explicando o seu papel "neste grande movimento de idéias". Neste mesmo livro, no Cap. XVII, intitulado "Predições do Evangelho", no item 40, podemos ler: "Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É o produto do ensino coletivo dos espíritos, ao qual preside o Espírito de Verdade." E no rodapé da pagina joga uma pá de cal sobre este assunto, escrevendo o seguinte: "Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora: o mosaismo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-sinomismo, etc... A palavra 'Espiritismo', ao contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina."

Portanto, baseado em tudo que aprendi até agora, sou Espirita e ponto final.

(O texto nos foi enviado por e-mail e também publicado na "Revista Internacional de Espiritismo", de Janeiro de 2002).
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Nota de "Cotidiano": Resta evidente, caros amigos e leitores do Blog, que o termo "Kerdecismo" foi criado e divulgado tão somente por nós, ante nossos entendimentos imprecisos e equivocados, ou mesmo ante à falta de conhecimento, não havendo, em nada, por isso, que responsabilizarmos a Doutrina ou o seu codificador.

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