"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a Alma e a Vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sacerdote ou de sumo sacerdote (...). O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adéptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade." (Kardec)


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Provas e Expiações

"O acaso é uma palavra inventada pelos desesperançados e descrentes, para ocultar a incapacidade de compreender e a falta de humildade para aceitar o domínio exercido pelas Leis do Criador sobre todos nós.
A vida é um encadeamento contínuo de causas e consequências."
(Mauro Paiva Fonseca)

Sem dúvida, existem diferenças marcantes nos fatos da vida, que concernem às expiações e às provas a que estão sujeitos os encarnados na Terra.

Os pungentes sofrimentos e as profundas dores que ponteiam os caminhos das criaturas, constituindo-se fatos inevitáveis, são as expiações. Eles são o processo de que se utiliza o automatismo da Lei de Justiça para promover os resgates inevitáveis dos delitos praticados por elas, contra os direitos dos semelhentes, quando no pleno uso da razão e do livre-arbítrio que lhes foi concedido pela Divina Sabedoria.

Consoante a gravidade do mal causado será a intensidade do sofrimento correspondente. Geram expiações tanto os delitos causados individualmente, como pelas coletividades, e a reincidência no crime praticado sempre agravará a intensidade da dor.

A variedade de maneiras com que são expiadas as faltas é infinita, impossível de serem enumeradas, já pela complexidade dos fatores envolvidos, já pela impossibilidade de penetrar-se a intimidade do calceta, a cujo íntimo apenas a Justiça Divina tem acesso total.

Desses sofrimentos pungentes, são exemplos a paraplegia, o mongolismo, a cegueira, a surdez, a mudez, a macrocefalia e a microcefalia, a idiotia, a hanseníase, lesões de nascença, além de outros muitos, numerosos e imperceptíveis à observação humana[1].

Expiar é, pois, sofrer consequências que permitem ao Espírito sentir, para avaliar com exatidão, a dor que infligiu aos semelhantes no passado, quando se desviou do caminho do bem, ignorando os apelos do bom senso, da lógica e da razão, para a prática da fraternidade e do amor; é a maneira de escoimar do próprio acervo os gravames que lhe impedem a felicidade, a paz e a ascensão às Esferas de Luz!

Não se trata de vingança por parte da Justiça Divina, mas de promover a sedimentação de experiências, passando pelos sofrimentos idênticos aos que provocou.

As expiações em geral são irreversíveis, e inscritas na Natureza intrínseca do perispírito, para eclodirem no momento oportuno, com o surgimento da maturação conveniente.

Quando se demora entregue aos embalos das paixões, prazeres e gozos da vida material, o homem, por sua fraqueza, se deixa dominar, escravindo-se aos vícios, em suas infinitamente variadas modalidades; por isso, através da reencarnações sucessivas, deverá aplicar-se ao trabalho de dominá-los, solicitando por vezes, no estágio pré-encarnatório, durante o período da erraticidade, quando do planejamento do programa reencarnatório, limitações que lhe facilitem combater e vencer aquelas dependências.

Assim, em cada estágio na crosta planetária, viverá as condições que lhe facultem a vitória, as quais se repetirão, até que possa demonstrar amplamente haver superado aquele obstáculo à própria felicidade: isto constitui a provação. Seu objetivo é "provar" a capacidade de superação. A provação não se constitui, por essa razão, um resgate por crime, delito ou pecado praticado contra o semelhante, mas uma falta praticada contra si próprio, um desrespeito à cidadania divina outorgada ao ser pelo Criador.

O alcoolismo, a toxicomania, a gula, a cleptomania, a sensualidade degenerada, o suicídio e mais outras inúmeras modalidades de criarmos hábitos nocivos, que entenebrecem a natureza espiritual, e que nos podem escravizar, até que consigamos superá-los, constituem razões de provação nas reencarnações dos Espíritos. Outras vezes, nas provações, o que se objetiva é vencer o personalismo e a egolatria pelo exercício dos elevados atributos da alma, combatendo a vaidade e o orgulho, com a reencarnação em condição humilde na vida social da terra.

Seria tarefa dificílima, talvez impossível, estabelecer rígidos limites, separando provações e expiações, mesmo porque, muitas vezes, numa mesma existência, a criatura concentra, em seu programa reencarnatório, as duas condições, quando se acha suficientemente fortalecida para o tentame de vencê-las ao mesmo tempo.

A razão das expiações e das provações é sempre o estado de rebeldia, intolerância, ignorância, revolta, indiferênça, negligência, má-vontade, ociosidade, comodismo etc, em que se conserva o ser humano, não compreendendo as leis que governam a vida e nem a realidade de que o aguarda além-túmulo.

(Texto de Mauro Paiva Fonseca, publicado na revista de espiritismo "Reformador", FEB, Ano 121/Abril, 2003/n. 2.089).
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1.Nota de "Cotidiano": No artigo "Tragédias e mortes coletivas" citamos algumas situações em que os flagelos destruidores se constituem provas e/ou expiações, como por exemplo no caso do Circo de Niterói/RJ, no caso das enchentes de Santa Catarina e no caso da queda de um avião narrada no livro "Ação e reação" de André Luiz, psicografado por Chico Xavier.

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